domingo, 31 de outubro de 2010

Foco no que interessa

Meus amigos são uma fonte inesgotável de inspiração para meus artigos. Conversando, outro dia, com uma amiga de muitos anos, tive algumas reflexões interessantes.

Trabalhei com ela anos atrás e naquela época ela era meio pavio curto. Não levava desaforo pra casa. E não importava quem fosse e que cargo tivesse; se ela se sentisse agredida ou injustiçada, devolvia. Naturalmente, nem sempre a resposta saia da melhor maneira... Na verdade, na maioria das vezes, não.

Para tornar mais claro o tema que quero abordar, vou dar um exemplo dessa pessoa. Ela era analista de RH em uma grande empresa e tinha sob sua responsabilidade, um projeto interessante de plano de carreira para a equipe de uma área operacional. Ao apresentar seu projeto ao seu gestor, este fez várias considerações. Algumas pertinentes e outras não, segundo a avaliação dessa analista. Além disso, não considerou adequada a forma como este gestor se referiu a ela e ao projeto. Então, ela fechou a cara e retrucou, secamente, a dois ou três comentários de seu gestor. Embora minha amiga, desde essa época já fosse muito boa profissional, acabava perdendo o foco que era implantar o projeto e buscar os resultados e, passava a tomar atitudes com o objetivo de mostrar que estava certa. Não se conformava em apresentar um projeto tão bom e não vê-lo implantado e, não se conformava em não ter o reconhecimento, já que o merecia.

Quando se veste a camisa de uma empresa, ganha-se uma insígnia e a missão de defender os interesses desta instituição. Essa é uma tarefa muito difícil, porque algumas vezes precisamos deixar de lado nossos próprios interesses. Muitos profissionais passam anos sem compreender com clareza, o propósito de seu trabalho e, portanto, qual o resultado que deverão entregar. E, se isto não estiver claro, por vezes, perdemos o foco.

Quando minha amiga se deixou irritar pelo comentário de seu chefe, esqueceu, momentaneamente, do valor de seu belo projeto e do quanto sua implantação traria benefícios para a empresa e para as pessoas.

Alguns podem estar se perguntando, agora “...mas, Sérgio, que diferença faria pensar nisso, já que o gestor havia vetado o projeto?”

Vou responder, contando uma outra passagem desta mesma amiga. Hoje, ela é gerente de RH e continua tendo alguns projetos vetados pelo seu chefe (atualmente, o presidente da empresa). Contudo, hoje ela compreende que ouvir um “é mesmo, você estava certa” ou “é verdade, você tem razão”, não é o mais importante. Quando um projeto seu é recusado,  busca entender o que não está bom. Então, volta pra sua mesa e trabalha em sua melhoria. Ou ainda, espera um outro momento e, com mais embasamento, apresenta-o novamente. Às vezes, apresenta uma, duas ou três vezes, porque conhecendo bem a área e o negócio da empresa, não tem dúvida de que isso colaborará com o crescimento da organização.

Certa vez, chegou ao cúmulo de ouvir de seu chefe “tive uma ótima idéia para resolvermos aquele problema”, tratava-se de seu projeto, narrado por ele com se fosse de sua autoria. Certamente, não foi algo agradável de se ouvir e nem eu tenho a intenção de valorizar tal comportamento. Quero sim, destacar que o projeto foi implantado e era tão bom e necessário, que minha amiga não se importou que, para viabiliza-lo, precisasse abrir mão dos louros. O foco de seu trabalho, hoje, está no alcance dos resultados, em sua entrega. Ela sabe o que precisa fazer e o faz.

E, você? Onde está o foco de seu trabalho?

Pense nisso e, me diga se faz sentido para você.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Carreira: Causa ou Consequência?

Ao iniciar a vida profissional, muitas vezes, as pessoas têm como motivação, suprir as necessidades básicas para sobrevivência. Isso acontece com a grande maioria dos brasileiros e significa que, em geral, as pessoas não começam a trabalhar porque querem, mas sim, porque precisam. E, comumente, quando a necessidade aperta, não sobra muito tempo para avaliar e escolher a atividade profissional que mais agrada a pessoa. Aliás, entre as camadas C e D da sociedade, já se programa que, tão logo seja possível, os filhos comecem a trabalhar para ajudar nas despesas da casa. A respeito dessa realidade, o fator idade e falta de experiência também afetam, consideravelmente, o poder de escolha do jovem em início de carreira. Eu costumo dizer que no começo da minha carreira, eu não escolhia os empregos, eram os empregos que me escolhiam.

Este cenário sócio-econômico pode trazer como resultado, a falsa compreensão de que a carreira profissional é uma conseqüência das circunstâncias, o que não é verdade! Uma pessoa não tem que seguir trabalhando naquilo que lhe apareceu no início, pelo resto da vida, só porque começou assim. Pense, dentre todas as relações que estabelecemos ao longo da vida, a relação profissional é aquela, na qual permanecemos mais tempo.

Buscando exemplos em outras relações duradouras, para esclarecer melhor o que quero dizer, me ocorreu o casamento. Para grande parte das pessoas, a vida profissional começa quando ainda são solteiros, se prolonga durante a vida conjugal e, muitas vezes, o casamento acaba, mas permanece a necessidade de trabalhar. Logo, a relação com a carreira profissional, consiste num tipo de “matrimônio” e, esteja dando certo ou não, precisaremos continuar “casados“.

E, porque não fazer esse casamento dar certo?

Pense que, ter uma carreira sólida e, financeiramente, bem sucedida, pode não significar, ser um profissional realizado. Assim como, ter um casamento duradouro, não significa, ser feliz no casamento. Contudo, em geral, sucesso profissional e satisfação, costumam andar juntos. Mais do que isso, é a satisfação de fazer o que gosta que, normalmente, conduz ao sucesso profissional.

Muitas pessoas fazem maus casamentos e, ao se perceberem dentro desta relação, se esforçam por faze-la dar certo. O problema não está no movimento de “fazer dar certo”, ma sim, na compreensão do que se considera “dar certo”. Ser duradouro não significa que deu certo. Então, lutam para manter uma relação que, no fundo, gostariam que acabasse. Com o trabalho é a mesma coisa.

Preste atenção aos sinais. Se, ao ouvir a música de encerramento do Fantástico, domingo à noite, você sofre pensando “...que droga, o final de semana acabou e amanhã já é segunda-feira...”, tem alguma coisa que não vai bem. Pode ser com a empresa em que você trabalha. E, neste caso, se resolve mudando de emprego. Porém, pode ser maior que isso. Você pode não estar confortável com sua carreira. E aí, não bastará procurar outra empresa, se for para fazer a mesma atividade.

Proponho compreender a carreira profissional sob uma óptica diferente. Ao invés de aceitar exercer uma atividade profissional que não satisfaz só porque, no início, foi o trabalho que surgiu, tente pensar naquilo que gosta de fazer. Conheço pessoas que transformaram seu hobby, ou mesmo aquela atividade que alivia seu stress, em sua atividade profissional.

Imagine a carreira como mola propulsora de satisfação. Sua escolha, seja qual for, determinará como serão os próximos anos de sua vida. Trabalho não tem que ser um castigo. Pelo contrário, deve proporcionar sentimentos de realização.

Um trabalho desagradável causa frustração, além de mal estar físico e emocional. Se você está se “esforçando” para ser um bom profissional e trazer os resultados que esperam de você, pense se a dificuldade não está justamente no fato de você não gostar do que faz. Conheci pessoas com mais de 10 anos de carreira, que tinham em seu discurso “já estou há tanto tempo nisso que agora, tudo que posso fazer é continuar...”. Mas também conheci pessoas que diziam “trabalhei nisso durante anos, porque foi o que surgiu quando comecei, mas agora vou estudar o que eu gosto e começar a trabalhar naquilo que, realmente, me agrada...”.

Num outro texto, eu falei sobre ter coragem de tomar decisões. Suas escolhas profissionais é que determinarão os caminhos que você percorrerá vida afora. Não permita que sua trajetória profissional seja conseqüência de escolhas ruins ou de falta de coragem.

Carreira profissional é o início e não o fim. É a causa de um intenso processo de desenvolvimento e pode trazer consigo uma série de oportunidades.  Porém, se você a construir, seguindo um caminho que não escolheu ou que não te agrada, pode ser geradora de frustração.

Reflita sobre como está sua carreira e, se sentir que é o melhor, não tenha medo de mudar.