terça-feira, 16 de julho de 2013

Odeio o Óbvio!

Falo sempre sobre isso em palestras e treinamentos. Considero o óbvio, um dos maiores ruídos da comunicação que, de quebra, traz como consequência o resfriamento das relações interpessoais. Preocupo-me toda vez que, numa empresa, ouço alguém dizer "mas isso é óbvio". Possivelmente, por trás dessa frase, haja alguém que percebeu não ter sido claro em sua comunicação e que busca responsabilizar o outro pela não compreensão.

O óbvio é autorreferente pois, parte do princípio de que se ele sabe tanto sobre o assunto e o vivencia há tanto tempo, todos também o sabem. E, convenhamos, quem é que gasta tempo explicando em detalhes um assunto que tem CERTEZA que o outro também sabe? Aliás, a certeza é amiga bem próxima do óbvio. Frequentemente, onde existe a certeza do conhecimento do outro, há um caminho aberto para o óbvio entrar.

O óbvio é a convicção de que todos os que estejam inseridos no mesmo contexto e, em igual condição, sabem tanto quanto ele.

E, porque não? Afinal, vivem a mesma realidade e compartilham das mesmas informações. Eu perguntaria, "e por que sim"? Será possível que o outro não saiba algo que eu sei tanto, e que ele também tenha acesso? Como é possível isso!? Será que é porque ele é ignorante ou desprovido de inteligência?

É uma possibilidade. Porém, prefiro acreditar que é pelo simples fato de o outro não ter vivido as mesmas experiências que eu. Ou seja, ele não se relaciona com o mundo da mesma maneira que eu, e não valoriza as mesmas coisas que eu. Logo, pode não se atentar com o mesmo peso e prioridade àquilo que para mim é importante. Em suma, não aprende como eu. E isso se aplica a qualquer setor da vida. No entanto, pensando no contexto profissional, é importante considerar que estarmos na mesma empresa, na maioria das vezes, seja a única coisa que tenhamos em comum. Não tivemos a mesma educação e, possivelmente, não tenhamos os mesmos referenciais, nem os mesmos valores. Cabe aqui uma ressalva: se nem entre irmãos, que tiveram a mesma educação, com as mesmas referências e valores, ocorre das pessoas pensarem "iguais", por que ocorreria com os estranhos, com quem convivemos somente no ambiente profissional?

Mas na correria do dia a dia seria tão bom se não fosse preciso explicar. Seria tão mais fácil se o outro compartilhasse do meu saber. Ou que pelo menos tivesse a minha velocidade e forma de entender as coisas.

Mas como ter certeza do saber do outro? Ora... Perguntando! Acontece que se você perguntar é porque você tem dúvida e não certeza. E, da dúvida, o óbvio não gosta nada. Em parte, pode ser por acredita que na empresa esperam que ele (e todos) tenha sempre certeza. Ou pode ser pelo fato de que se perde muito tempo perguntando "o que você sabe sobre este assunto?" ou "o que você entendeu do que eu falei?". Então, ele não pergunta. Diz logo o que tem a dizer, e se o outro tiver dúvida que pergunte. Claro, se conseguir transpor a barreira criada na relação. Essa barreira representada pela urgência de passar logo a informação e sair andando. Ou aquela outra que se estampa no rosto de algumas pessoas quando têm de transmitir uma informação: a cara de que o assunto é óbvio. Pense comigo: há algo mais constrangedor, numa conversa profissional, do que perceber que o assunto que pra você é novo e complexo, para quem está lhe explicando é óbvio?

Sim, porque o óbvio é irritadiço. Está sempre pronto a fazer uma careta de desagrado para quem não o entende. Interpreta logo como, burrice, preguiça, corpo mole ou má vontade. Claro, pois é óbvio que se há alguém equivocado na história, certamente são os outros; nunca o óbvio.

Por outro lado, nem sempre o óbvio é evidente. Nem sempre está estampado no rosto das pessoas que elas são amigas do óbvio. E, nesses casos, eu o considero mais perigoso, pois, como eu não participo de seus pensamentos, não tenho como saber o que você considera óbvio. Não sei, portanto, quando você deixará de me passar alguma informação importante para o meu trabalho, por acreditar que eu já sei.

Em resumo, o óbvio gera retrabalho, porque não permite que a comunicação aconteça por completo. Vive intrigado porque, embora acredite que é compartilhado por todos, vive percebendo que está sozinho, porque não existe óbvio coletivo. Na verdade, defendo a ideia de que o óbvio não existe. Afinal, se a minha experiência de vida é particular, tudo que eu sei só é óbvio para mim!

Concluindo, aquelas empresas cujos processos funcionam praticam uma comunicação eficaz. E, onde há comunicação eficaz, não há lugar para o óbvio.

E, para aqueles a quem o texto não foi claro, vai a informação: não gaste tempo e energia esperando que o mundo funcione como você. Parta do princípio de que ninguém sabe o que você sabe e vice-versa. Estresse a informação. Assuma a responsabilidade por se fazer compreender. Se conseguir ser claro de primeira só terá de explicar uma vez. E, de brinde, ainda poderá ganhar maior eficácia no trabalho.