Uma empresa é composta por tecnologia, processos e pessoas.
Destaque para o último item que, no exercício diário das atividades de uma empresa é a parte que mais apresenta variáveis. Consequentemente, nessa tríade, é a parte que mais pode comprometer os objetivos de uma empresa e, fatalmente, o seu desenvolvimento.
Garantir que os colaboradores compreendam seu papel na organização e queiram colaborar com os processos e com a tecnologia, é função das lideranças. Mas, para tanto, é preciso que também os líderes saibam qual é o seu papel na organização.
Lembrei de um caso que ilustra bem essa situação. Um profissional de RH amigo meu, trabalha numa empresa de Call Center onde teve o desafio de implantar uma série de projetos e políticas. Uma delas foi a política de vestimenta. Embora pareça simples, mobilizou consideravelmente os profissionais da empresa.
O público mais afetado pela política seriam os operadores de telemarketing. A maioria muito jovem, vestida de forma bastante despojada e, por vezes, ousada, teria dificuldade em compreender que o trabalho exige certo cuidado na escolha dos trajes.
O trabalho consistiu em apresentar a política e o plano de comunicação às lideranças. Desta forma, ficaria claro para estas qual discurso deveriam adotar para orientar suas equipes e conscientizá-los da importância dessa mudança. Compreendo que o papel do líder seja de porta-voz dos direcionamentos da empresa. Mas ainda, de vendedor das ideias que a empresa defende e de condutor do grupo no caminho determinado pela organização. Assim se alcança objetivos.
Costumo dizer a algumas pessoas que nem sempre concordamos com as mudanças, mas elas são necessárias e, numa empresa, precisamos segui-las. A não ser que a orientação recebida fira seus valores. Neste caso, o melhor é ir embora.
No organograma dessa empresa há gestores, coordenadores, supervisores e operadores. O grupo de supervisores ficou diretamente responsável por orientar as equipes e controlar para garantir a aderência a política. E foi o que muitos deles fizeram. Porém, me chamou atenção a maneira como alguns outros supervisores que não concordaram com a política passaram a se comportar. Para não se tornarem vilões, atribuíram ao profissional de RH toda responsabilidade pela “proibição”. Alguns supervisores, temendo terem de mandar de volta para casa os de traje inadequado (a ausência compromete os indicadores das equipes) resolveram começar a trazer peças de roupa para adequar a vestimenta dos operadores se necessário e burlar a segurança. Outros, se indispuseram com os agentes de segurança da empresa, para evitar que seus funcionários fossem barrados na entrada.
Esse comportamento, possivelmente, tenha fortalecido a relação entre supervisor e operador, já que havia ali uma grande “cumplicidade”. Por outro lado, evidencia a fragilidade da relação entre supervisores e a empresa. Como é possível ser líder numa empresa e não defender suas políticas? Como é possível ser líder numa empresa e burlar suas regras? Como é possível ser líder numa empresa e trabalhar para que esta não se desenvolva?
Conforme mencionei no início, as pessoas representam a parte da tríade com potencial para comprometer o desenvolvimento de uma empresa. Resistências são previstas em qualquer processo de mudança. Isso é normal. O que não é natural é a cisão entre liderança e empresa. Para as equipes, o líder deve ser visto como parte da empresa. Logo o que vier de seus líderes deve ser compreendido como a intenção e o desejo da empresa. Isso fortalece também o vínculo das equipes com e empresa.
Quando líderes se comportam dessa maneira, alimentam a ideia de que existem dois lados; e com isso descredibilizam a organização e, sem perceberem, a si mesmos. Porque na presença de seus gestores, dão a orientação tal qual reza a política. Mas no dia a dia praticam outra política. A política do vale qualquer coisa para manter bons resultados e estar bem com a equipe. Vale até mesmo não vestir a camisa da empresa que representa. Não se iluda imaginando que a equipe não está percebendo.
Liderança não é aquela que consegue as coisas com a equipe no grito. Mas também não é aquela que para não parecer rude com a equipe, atribui a outro a autoria das orientações difíceis.
Se você quer ser líder, pense que seu papel será o de garantir a unidade entre colaboradores e empresa. Deverá transmitir orientações, sejam quais forem, de maneira a engajar o grupo e motivá-los a colaborarem com o alcance dos resultados.
Se você já é líder, pense na responsabilidade de representar a empresa perante sua equipe. Avalie como tem desempenhado esse papel e responda, de que lado você está?