Falo sempre sobre isso em
palestras e treinamentos. Considero o óbvio, um dos maiores ruídos da
comunicação que, de quebra, traz como consequência o resfriamento das relações interpessoais.
Preocupo-me toda vez que, numa empresa, ouço alguém dizer "mas isso é
óbvio". Possivelmente, por trás dessa frase, haja alguém que percebeu não
ter sido claro em sua comunicação e que busca responsabilizar o outro pela não
compreensão.
O óbvio é autorreferente pois,
parte do princípio de que se ele sabe tanto sobre o assunto e o vivencia há
tanto tempo, todos também o sabem. E, convenhamos, quem é que gasta tempo
explicando em detalhes um assunto que tem CERTEZA que o outro também sabe? Aliás,
a certeza é amiga bem próxima do óbvio. Frequentemente, onde existe a certeza
do conhecimento do outro, há um caminho aberto para o óbvio entrar.
O óbvio é a convicção de que
todos os que estejam inseridos no mesmo contexto e, em igual condição, sabem
tanto quanto ele.
E, porque não? Afinal, vivem a
mesma realidade e compartilham das mesmas informações. Eu perguntaria, "e
por que sim"? Será possível que o outro não saiba algo que eu sei tanto, e
que ele também tenha acesso? Como é possível isso!? Será que é porque ele é
ignorante ou desprovido de inteligência?
É uma possibilidade. Porém,
prefiro acreditar que é pelo simples fato de o outro não ter vivido as mesmas
experiências que eu. Ou seja, ele não se relaciona com o mundo da mesma maneira
que eu, e não valoriza as mesmas coisas que eu. Logo, pode não se atentar com o
mesmo peso e prioridade àquilo que para mim é importante. Em suma, não aprende
como eu. E isso se aplica a qualquer setor da vida. No entanto, pensando no
contexto profissional, é importante considerar que estarmos na mesma empresa,
na maioria das vezes, seja a única coisa que tenhamos em comum. Não tivemos a
mesma educação e, possivelmente, não tenhamos os mesmos referenciais, nem os
mesmos valores. Cabe aqui uma ressalva: se nem entre irmãos, que tiveram a
mesma educação, com as mesmas referências e valores, ocorre das pessoas
pensarem "iguais", por que ocorreria com os estranhos, com quem
convivemos somente no ambiente profissional?
Mas na correria do dia a dia
seria tão bom se não fosse preciso explicar. Seria tão mais fácil se o outro
compartilhasse do meu saber. Ou que pelo menos tivesse a minha velocidade e forma
de entender as coisas.
Mas como ter certeza do saber do
outro? Ora... Perguntando! Acontece que se você perguntar é porque você tem
dúvida e não certeza. E, da dúvida, o óbvio não gosta nada. Em parte, pode ser por
acredita que na empresa esperam que ele (e todos) tenha sempre certeza. Ou pode
ser pelo fato de que se perde muito tempo perguntando "o que você sabe
sobre este assunto?" ou "o que você entendeu do que eu falei?".
Então, ele não pergunta. Diz logo o que tem a dizer, e se o outro tiver dúvida
que pergunte. Claro, se conseguir transpor a barreira criada na relação. Essa
barreira representada pela urgência de passar logo a informação e sair andando.
Ou aquela outra que se estampa no rosto de algumas pessoas quando têm de
transmitir uma informação: a cara de que o assunto é óbvio. Pense comigo: há
algo mais constrangedor, numa conversa profissional, do que perceber que o
assunto que pra você é novo e complexo, para quem está lhe explicando é óbvio?
Sim, porque o óbvio é irritadiço.
Está sempre pronto a fazer uma careta de desagrado para quem não o entende.
Interpreta logo como, burrice, preguiça, corpo mole ou má vontade. Claro, pois
é óbvio que se há alguém equivocado na história, certamente são os outros;
nunca o óbvio.
Por outro lado, nem sempre o
óbvio é evidente. Nem sempre está estampado no rosto das pessoas que elas são
amigas do óbvio. E, nesses casos, eu o considero mais perigoso, pois, como eu
não participo de seus pensamentos, não tenho como saber o que você considera
óbvio. Não sei, portanto, quando você deixará de me passar alguma informação
importante para o meu trabalho, por acreditar que eu já sei.
Em resumo, o óbvio gera
retrabalho, porque não permite que a comunicação aconteça por completo. Vive intrigado
porque, embora acredite que é compartilhado por todos, vive percebendo que está
sozinho, porque não existe óbvio coletivo. Na verdade, defendo a ideia de que o
óbvio não existe. Afinal, se a minha experiência de vida é particular, tudo que
eu sei só é óbvio para mim!
Concluindo, aquelas empresas
cujos processos funcionam praticam uma comunicação eficaz. E, onde há
comunicação eficaz, não há lugar para o óbvio.
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