Tive a grata oportunidade de
assistir ontem ao musical “O Homem de La Mancha” que conta a vida de Dom Quixote,
personagem de Miguel de Cervantes. Em determinado momento, em meio ao seu
discurso sonhador, o cavaleiro da Triste Figura lança a seguinte frase “louco é
quem vive a vida como ela é e não como gostaria que ela fosse”. Fiquei
impactado por esta frase e, guardadas as devidas proporções, refleti sobre sua
relevância no nosso dia-a-dia de hoje.
Sempre imagino a vida como uma rua daquelas
que a gente trafega em meio a uma multidão de pessoas, todas andando na mesma
direção, num movimento contínuo e frenético. Quando a gente vê uma vitrine que
interessa ou lembra de uma loja que ficou lá atrás, tenta parar ou voltar, mas
não consegue. Ou, se prepara para enfrentar no fluxo contrário, o olhar de
crítica e desagrado das pessoas. Muitas vezes, não escolhemos seguir nessa
direção do maior fluxo, mas é o caminho mas “óbvio”, pois a grande maioria já vai
nessa direção.
A vida como ela é, nem sempre é a
vida como você gostaria que fosse. Mas, mesmo não sendo plenamente
satisfatória, é a vida mais fácil de ser vivida. E, quando eu digo fácil, quero
dizer que é a vida que esperam que você viva (não, necessariamente, fácil).
Vejo adolescentes escolhendo a mesma carreira dos pais ou aquela que os pais
esperam que eles escolham. Vejo profissionais trilhando caminhos na carreira,
de acordo com a expectativa de outros. Buscando posições de liderança que
nunca quiseram ou salários que trazem o status que atendem aos interesses do
meio, não os deles.
Quando a vida que você leva,
coincidentemente, é a vida que você gostaria de levar, bingo! Está perfeito. O
ruim é quando você entra naquela rua tumultuada em que a multidão parece determinar
em que direção você deve trafegar.
E aí, você é daquelas pessoas que
vê a vitrine e mesmo querendo parar, segue em frente, porque todo mundo está
seguindo em frente? Tem vontade de voltar pra olhar a loja que passou, mas não
tem coragem de retornar e enfrentar as críticas?
Às vezes, é necessário parar em
frente a uma vitrine para pensarmos no que vamos fazer e decidir se o caminho
que estamos trilhando nos levará para onde queremos. Muitas vezes, é parando em
frente a uma loja que a gente percebe que o que a gente deseja “adquirir” pra
nossa vida, está numa outra rua. E será preciso retornar entre as pessoas que
estão no caminho atual para acessar esta outra via que nos interessa.
Dom Quixote, entrou em crise e
não suportou a realidade, quando olhou para o espelho e encarou seu próprio
reflexo. Para muitos, é duro reconhecer que estão deixando de lado o que
gostariam de fazer na vida. Por isso, às vezes nem identificam que algo vai mal
e continuam investindo na vida que têm. Passam a vida evitando o espelho para
não entrarem em crise.
Em resumo, mudar as coisas na
vida exige coragem. Mas também exige coragem saber o que quer e nada fazer para
buscar. Se você não vive hoje, a vida que gostaria, estabeleça um foco e
planeje a mudança. Se for difícil fazer sozinho procure ajuda, mas não seja
louco de se contentar em viver a vida como ela é.
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